Por Alisson, PR7GA

ATENÇÃO! Este artigo foi atualizado. Clique aqui para ver a versão atual: https://qtc.ecra.club/2022/03/falando-de-modos-de-transmissao.html

Quantos de nós nos referimos às faixas de radiodifusão comercial como sendo “a faixa de AM” ou “a faixa de FM”? Mas você sabia que AM e FM são apenas MODOS de transmissão, e que além destes, existem outros inúmeros como SSB, CW, RTTY, PSK31, JT65, FT8? Mas o que seria um MODO de transmissão?

Antes de tratar deste assunto, precisamos entender algo mais fundamental. O conceito de PORTADORA e MODULAÇÃO.

Muitos conhecem a palavra PORTADORA e a associam a algo muito ruim: a interferência que certos desocupados geram nas repetidoras, tentando tumultuar os contatos. Então, seguindo este mau exemplo, associam a PORTADORA a algo mau, mas no entando a PORTADORA é importantíssima. Aliás, não haveria radiocomunicação sem ela, juntamente com a MODULAÇÃO!

Uma forma simples de entender o que é uma PORTADORA é analisando a nossa voz. Quando abrimos nossa boca e falamos, estamos emitindo uma PORTADORA! São os sons que emitimos que são gerados em nossa garganta. Quando esses sons são inteligíveis, estamos transmitindo INFORMAÇÃO: as palavras. 

Então, se os sons são a PORTADORA, as palavras que falamos e “transmitimos” são a MODULAÇÃO! Enquanto falamos com nossos amigos, eles estão captando a nossa voz (a PORTADORA) e entendendo as palavras que estamos emitindo (a MODULAÇÃO), e assim, conseguimos nos comunicar. Ou seja, em resumo, PORTADORA é algo que CARREGA, TRANSPORTA, LEVA uma informação, ou seja, a MODULAÇÃO.

Voltemos à questão dos MODOS com outra analogia. Para se comunicarem, nossos antepassados inventaram inúmeras línguas ao redor do mundo. Então, aqui no Brasil falamos a língua portuguesa, na China se fala o Mandarim, na França o francês, nos Estados Unidos o inglês, e assim por diante. Obviamente, para que possamos nos comunicar com outras pessoas, precisamos todos falar a mesma língua.

Se a nossa voz é a PORTADORA e as palavras que falamos são a MODULAÇÃO, então a língua que falamos é o MODO DE TRANSMISSÃO. Ou seja, é a FORMA como a informação é transmitida. Eu posso dizer BOM DIA em português, OHAYO em japonês, GOOD MORNING em inglês, BUENOS DIAS em espanhol, mas em todos esses casos a INFORMAÇÃO foi a mesma. O que mudou foi a FORMA de transmitir essa informação.

Então, quando falamos em AM, FM, SSB, CW, RTTY, DSTAR, FT8, estamos falando em algo como línguas diferentes, todas destinadas a transmitir informação.

O primeiro modo de transmissão a ser inventado foi o CW, no século 19. CW significa “onda contínua” na abreviação em inglês, e quando associado ao código morse, consiste de sons curtos e longos que, em conjunto, significam letras, números, pontuação e sinais especiais. Assim, um único som curto significa a letra E, dois sons curtos a letra I, um som longo a letra T, um som longo e três curtos a letra B, e assim por diante. 

Apesar de ser o mais antigo modo de transmissão, o CW ainda hoje é utilizado por inúmeras pessoas, dentre elas, nós os radioamadores. Isso acontece porque o CW é uma das formas mais eficientes de comunicação. É possível montar um transceptor de CW de baixa potência com apenas alguns reais e mesmo assim fazer contato com outros radioamadores distantes até milhares de quilômetros, dependendo da faixa utilizada e da propagação.

Depois do CW, o segundo modo de transmissão inventado foi o AM, que significa “amplitude modulada”. Para gerar uma transmissão em AM, basicamente a PORTADORA varia sua potência, ou amplitude, em função do áudio a ser transmitido. Foi o primeiro modo que permitiu transmitir diretamente a voz humana, permitindo a quem transmite ser ouvido em qualquer lugar aonde chegue sua transmissão. 

Porém, em comparação ao CW, seu alcance é bem menor, ou seja, é bem menos eficiente. Um receptor AM é extremamente fácil de montar, como por exemplo, o chamado rádio de Galena que consiste basicamente num diodo, um resistor e um capacitor, sem necessidade de alimentação com energia elétrica. No início do século 20, nossos avós e bisavós sintonizavam as emissoras de radiodifusão da época utilizando a princípio estes receptores simples. No radioamadorismo, este modo de transmissão ainda hoje é utilizado por saudosistas especialmente nas faixas de 40m e 80m.

Para resolver o problema da baixa eficiência do AM, foi desenvolvido o modo chamado SSB, abreviatura em inglês para BANDA LATERAL SINGELA. Nos rádios, o SSB consiste em dois modos, chamados USB e LSB. Em comparação com o AM, este modo apresenta uma qualidade de áudio nitidamente inferior, e não serve para transmitir música, apenas a voz humana. Apesar disso, teve adoção generalizada ao redor do mundo pela sua eficiência: este modo de transmissão consegue ir muito mais longe que o AM, com a mesma potência. 

Comparativamente, uma transmissão em AM precisa ter uma potência seis vezes maior que em SSB para chegar com a mesma intensidade que este! Por exemplo, um transmissor SSB de 100W emite a mesma potência aparente que um transmissor AM de 600W, mas gastando uma fração da energia deste! 

Porém, o SSB tem uma pequena desvantagem. Para que possamos entender uma transmissão em SSB, temos que sintonizar EXATAMENTE na mesma frequência que o sinal transmitido, com tolerância de apenas algumas dezenas de Hertz. Do contrário, o áudio recebido ficará completamente ininteligível, com voz de “pato” ou parecendo um monstro falando! Assim, enquanto que um transceptor AM é relativamente simples de construir, um transceptor SSB é extremamente complexo, e portanto, bem mais caro.

Na próxima edição do QTC, falaremos de outros modos de transmissão, incluindo os modernos modos digitais. Não perca!

Deixe seu comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem